sussurro

 a inércia
 que se aproxima 
 do lobo estreito
 feroz,
 capaz de dizer pro vento 
 pra onde deva ir
 
 assusta o rosto e a pele
 com o sussurro da ventania
 que direciona a saída da voz
 do bicho indivíduo
 
 invadindo a surdez 
 inata dessa subsistência
 das vibrações vocais únicas
 submergidas neste tímpano
 
 e por mais dentro que for, 
 ruído
 sairá nos dentes 
 pontiagudos
 ruído
 brilhantes
 salientes e seguro
 te morde e te fere
 mas não te convence
 o ruído
sussurro

latido


latem
esses
que são cachorros,
já por volta de 00:59
param os mesmos
trocam ideias
veem espíritos
latem pra madrugada
que de tão silêncio
se faz barulho
e
um ralo devorando o latido
submerso no organismo
do mendigo
esse,
dono da alvorada
com os lobos em cima de suas latas,
companheiros
de outras vidas
essas que já foram
esquecidas
agora
um latido


latido

são tempos

horas
segundos

espera
que uma hora
a roda fecha
tudo de mão dada

as cores permitem 
devoção
aos olhos

o pincel manuseia, 
emoção

paro de pensar 
quando entro numa camada
intocável

sem calculo, sem hora
– senhora?
– onde estava?

pairei, 
vomitei o sopro no nanquim,
pro sábia de misericórdia

– córdia, sabia?
– árvore que tem família,
sabiá té passou lá

saudade da voz,
não se demore com saudade
pois demora só faz repouso

são tempos